Centro de Tradições Gáucha de Uberaba - MG
Cultura Nativa
Poesia: Relho Prateado
No gancho dos meus recuerdos Te vejo relho prateado Traste gaúcho encapado De lonca e de couro cru, A papada de zebu Que te serve de ponteira, Bem como o fiel e a soiteira Feitos de couro de lei Me lembram que foste rei Nos bochinchos da fronteira!
A soiteira, trança de oito, Torcida perto do cabo Em muito fandango brabo Levou riscos de xerenga E andou buscando pendenga Nos entreveros de bala, E até parece que fala De tanta prenda querida Que bombeou meio escondida Por entre as franjas do pala!
Te evoco, relho trançado No cruzador das coxilhas Amanunciando as virilhas Do redomão corcoveando Sempre subindo e baixando No mais chucro desapego Sem perturbar o sossego Daquele nobre paisano Que foi guasca e soberano Sobre um trono de pelego!
Entre os demais apetrechos Rédeas, cabresto e buçal Maneador, cincha e bocal Dependurados num torno, Recordas o sangue morno Pingando da carne assada, E essa cabeça prateada Como uma melena branca Já andou batendo na anca De muita china aporreada!
Nos entreveros da dança Na faca dependurado Andaste relho prateado Como pra um quero, no jeito, Sempre olhado com respeito Por muito taura manheiro Que pagou vale ligeiro Depois de ganha a parada Para fugir da mirada Do teu olhar caborteiro!
Andaste tirando baldas No potro arisco de em pêlo E acalmando no sinuelo Muito turuno maleva, E é por isso que tu levas De cada lida um sinal, Manotaços de bagual Entre dentadas de cusco, E algum aperto mais brusco Inda hoje te assinala No rasto de muita bala Que te cruzou de chamusco!
São relíquias como tu, Relho de cabo prateado Que refugando o passado E o sinuelo do presente, Deixaram na cinza quente Esse atavismo tão grande Como fogo que se expande Desde o confim de outras eras Fazendo de cada cuera Um pedaço do Rio Grande!
Entre o choro da cordeona Sob a tolda das carretas Nos bolichos e carpetas Na carreirada e na farra Estes pialos de cucharra Tiros de laço e de bola Emparceirado na viola Nas noites de serenata Viveste relho de prata Sempre compadre a pachola!
Por isso quero te ver Esse é um pedido que faço Enfiado sempre no braço Desse rio-grandense altivo Em cujo vulto revivo O chão lendário do pampa Quando se formava a estampa Do gaúcho primitivo!
Autor: Jayme Caetano Braun
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