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Velo Branco
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Centro de Tradições Gáucha de Uberaba - MG

Cultura Nativa



Poesia: Velo Branco



Nos matadouros sulinos
Há uma cena que emociona
Isso se dá quando ressona
O derradeiro berro da ovelha
Que, em uma luta desparelha,
E, de cabeça para baixo,
Choraminga tal como guaxo
Vendo a lã, sangrada, ficar vermelha.

 

 

Nesse instante o pobre bicho
Indefeso e de olhar triste
Corpo quente, ele assiste
Sua curta vida findar
Pois a sua sina é alimentar
Com sua carne, ao povo singelo
E com sua lã, o branco velo,
Nos galpões, nos esquentar.

 

 

Daí é que nasce o pelego,
Esse adorno da natureza,
Que, apesar de sua ímpar beleza,
Não me permite esquecer
Que o ciclo da vida faz ver
Que todo e qualquer conforto
Deriva de alguém que foi morto
Para outro melhor viver.

 

 

A pele, porém, só será pelego
Se no campo, ao natural
Houver a limpeza do carnal
Com a salga e o secamento
Expondo-a, esticada ao vento
Em madeira bruta, pregada
Retirando a carne deixada
Na derme que à lã dá sustento.

 

 

Já no processo em curtume
Onde ocorre o industrial curtimento
Dá-se à pele um tratamento
Com lavagem, remolho e descarne
Aplicando-se, após, uma banhagem
Em píquel, sódio e cromo
Engraxando a lã, para que o dono
Tenha um pelego de linhagem.

 

 

Por isso, ao ver-te servindo
De abrigo ao filho que dorme
Tenho de lembrar quão enorme
É a tua serventia
Pelego que foste um dia
A coberta de um corpo quente
De uma ovelha que, como gente,
Maltratada, berrando, sofria.

 

 

Apetrecho tirado em pele
Das ovelhas abatidas
Que ao perderem suas vidas
Perdem suas vestimentas
E que nas noites frias acalentas
No rude catre do povo
O cansado corpo do homem novo
Que só do labor se sustenta.

 

 

Singela manta de lã
Tu tens várias serventias
Compondo, na montaria,
Do potro ainda aporreado,
Um apero mui delicado
Que se coloca em cima da sela
Para não sentir, o animal, que nela
Vai um domador montado.

 

 

Já os povoeiros te usam
Muito mais como um adorno,
Vendo em ti, como um retorno
Da infância, tempo passado
Onde os homens sentados
Em pelegos, sobre rústicos bancos
Entre si eram mais francos
Que os donos do Estado.

 

 

Por essas razões escrevi esses versos
Nas maltraçadas linhas que lês
Para dizer-lhe que, ao chegar minha vez
Não esqueças de fazer-me um achego
Colocando entre os apegos
Que na vida Eu escolhi
Uma foto do meu guri
E sob o meu corpo, um pelego.

 

 

 

Autor: Waldemar Menchik Júnior

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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