Centro de tradições Gáucha de Uberaba - MG
Cultura Nativa
Poesia: A Seca e a Vertente
De longe se via o rancho, Parecendo ser tapera Mas, que, de fato, não o era Já que nele havia gente Na varanda, bem na frente... Um homem de brancas melenas Ensimesmado com as penas Brotadas da seca inclemente.
Por quê? A si perguntava, Aquele senhor já tordilho: Por que será que meu filho Não quis esperar o aguaceiro E se foi para o povoeiro Onde as luzes cintilantes Levam até mesmo, por diante Quem se criou nos potreiros.
E a patroa? Foi com a filha Dizendo já estar cansada Desta terra empoeirada Onde a roupa nunca ´lava´ Pois a vassoura de piaçava, Com suas fibras de palmeira, Ao varrer, levanta poeira Disso, ela, não gostava...
Será que ensinei algo de errado Para lhes faltar persistência Ao deixarem, na minha querência Os arreios, por adorno E no pátio, em seu entorno Velhas cangalhas jogadas Ou senão, dependuradas Nas paredes, sem contornos.
Tristemente, Ele se dá conta Que a seca o deixou sozinho Pois os Seus, sem ter carinho Deixaram os aperos atirados Em galpões empoeirados Com esporas sem encargo Onde o mate é mais amargo Porque se toma com espinhos.
Mesmo assim, persiste o velho... Não abandona sua casa, Pois igual ao ferro em brasa, Tem em si, como um preceito A crença de que um rio, em seu leito Sem um galho do nativo ´sarandi´ Impede de salvar-se quem ali Inventou de botar o peito.
Se a estiagem tanto castiga Fazendo do verde, cinzento Pensa o ancião - naquele momento: O clima também há de mudar Por isso, vou esperar Até que o tempo se arme E, assim, de repente, sem alarde O verde haverá de voltar.
Tão logo, isso decide Sente roçar-lhe a camisa Pelo vento norte, cuja brisa Prenuncia água do céu E, tirando o seu chapéu, Em tom de agradecimento Olha para o firmamento Feliz por não ter saído ao léu.
É que nas intempéries da vida Há sempre o dia seguinte E não há quem, sendo ouvinte, Não escute, da natureza, a voz E isso também serve para nós Que, muitas vezes, desistimos, Sem levantar, quando caímos Parecendo rio sem foz.
O importante é que a seca - Mesmo a mais inclemente, Não mata sequer a simples vertente Do fio de água, que nos dá a vida E que, por vezes, escondida Nos recônditos de algum capim Faz lembrar que dentro de mim Também a ´estiagem´ é sentida.
Mas assim como a chuva Que à seca vai um dar fim Espero que, para mim haja verdejantes dias e que ela, que me traz melancolia como nos tristes ventos de agosto não tire de mim o gosto pelos tempos de alegria.
E aquele senhor, de melenas alvas que, sendo forte, ficou vê a chuva agora cair, e ri do que passou porque de sua perene alma, tal como da vertente calma jorram rios de felicidade por ter mantido a identidade do lugar donde brotou.
Por essas razões, lhes digo: A esperança é como a vertente Que irriga a alma da gente Ajudando a apagar cicatrizes Para que fatos de quaisquer matizes Não façam da vida uma ´estiagem´, Sendo a seiva da coragem, Para afirmar nossas raízes!
Autor: Waldemar Menchik Júnior
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